Filme: Alice Através do Espelho

 
 
 
 
 
 
O post a seguir contém spoilers sobre o filme "Alice Através do Espelho", então se não quiser detalhes do filme eu adivirto a parar de ler agora. Veja o filme e depois volte a publicação, onde pretendo explicar alguns desfechos sobre o paradigma das "viagens no tempo".
 
Você foi avisado!
 
A publicação a seguir contém Spoilers:
 
 
 
TEMPO: VILÃO OU HERÓI?
 
Primeiramente o Tempo e sua importância na trama:
 
 
Tempo, eis a questão: Vilão ou mocinho? Esse é o enigma que nos deparamos ao assistir a adaptação cinematográfica da obra de Lewis Carroll, "Alice Através do Espelho". O mais legal no filme é com certeza a viagem no tempo. Para sintese: Alice (protagonizada por Mia Wasikowska) precisa voltar no tempo para impedir um acontecimento passado que afeta diretamente o Chapeleiro Maluco (interpretado por Johnny Depp). Na história a viagem no tempo é possível através da Cronosfera que está em posse do Tempo e como toda boa história de viagem no tempo que se preze: quando um viajante encontra seu Eu do passado cria um paradoxo temporal que destrói todas as realidades (passado, presente e futuro). Por isso, embora seja possível, ninguém do País das Maravilhas tentou algo tão perigoso. Alice, no entanto, não pertence ao País das Maravilhas, ela é do nosso mundo e, portanto, é a única que pode realizar tal feito sem criar o paradoxo temporal já citado. Mas vale acrescentar que Alice quer alterar o passado e é claro que temos em mente que qualquer ato que ela cometa em sua viagem vai afetar diretamente o futuro que ela e nós conhecemos. 
 
Durante a película nós como um bom público torcemos pela mocinha e torcemos pela recuperação do Chapeleiro e é nesse contexto que o Tempo (que é um personagem real) é apresentado como o vilão que tenta a todo custo deter a heroína. Mas fica a questão: Ele é mesmo o vilão? Ao que parece, e ao meu ver, ele só está tentando impedir que a dita "heroína" do filme cometa uma catástrofe. Tudo bem, Alice está tentando salvar o Chapeleiro e essa é a razão pela qual torcemos por ela. Mas, será mesmo que as ações dela são racionais? O ato dela pode ser nobre, mas não só de flores a vida se faz. O infortúnio que ela tenta evitar pode gerar diversos efeitos-colaterais no futuro que ela conhece, que por acaso está 90% okay (estou tirando os 10% em reconhecimento pela situação do Chapeleiro), no qual, a Rainha Vermelha (vivida pela excelente Helena Bonham Carter) foi derrotada e o País das Maravilhas vive a Era da Rainha Branca (interpretada por Anne Hathaway). E como devem se lembrar o Chapeleiro tem papel importante para esse desfecho. Então o que acontece se alteramos o passado desse personagem? É uma pergunta pertinente, não?
 
Muito bem, agora chegou a hora que certamente gera spoilers (então pare de ler se você não quer saber detalhes importantes). A parte mais interessante da película é que "Alice Através do Espelho" explica vários acontecimentos de "Alice no País das Maravilhas", como por exemplo: Por que o Chapeleiro, a Lebre de Março e Mallymkun na icônica cena do "chá maluco" estão presos a hora do chá, sempre há um minuto para às seis? Ou por que a cabeça da Rainha Vermelha é tão grande? É nesse momento que a ficha cai: Alice não altera o futuro porque ela, na verdade, é o catalizador para que os acontecimentos futuros (que conhecemos) de fato ocorram. Vou explicar melhor, esse fenômeno é chamado de Paradoxo da Predestinação ou Ciclo Casual. E o que seria isso? É um paradoxo de ciclo fechado em que o viajante do tempo acaba cumprindo o seu papel em um evento que ja ocorreu. Um detalhe importante é que com ou sem a interveção do viajante os acontecimentos passados sempre vão acontecer de uma forma ou de outra e o futuro sempre terá as mesmas consequências, ou seja, é um ciclo fechado. 
 
Quando enfim nos deparamos com essa verdade, assim como Alice, nos lembramos da frase que o Tempo (o dito "vilão") disse ao início do filme: "Não se pode alterar o passado, o que você pode fazer é aprender com ele". O Tempo, na verdade, estava alertando Alice, que é claro não deu ouvidos e partiu na missão mesmo assim. Mas, se não podemos alterar o passado, por que o Tempo está tão preocupado? Alice não pode alterar os eventos e claramente, por não pertencer a esse mundo, não pode se encontrar com o seu Eu do passado (porque ele não existe) e gerar o Paradoxo que destruiria todas as realidades (passado, presente e futuro). O que preocupa o Tempo, caros leitores, é a Cronosfera. Se ela não for devolvida depois de um certo período o "tempo" vai literalmente parar. Ou seja, no fim das contas o Tempo só queria recuperar seu objeto mágico para evitar que o País das Maravilhas fique parado no tempo. Então, lhes pergunto caro leitor, o Tempo é mesmo um vilão? Ele está parecendo muito com um dos heróis, devo dizer. A resposta mais próxima é que o Tempo não seria nem herói e tão pouco um vilão, mas sim um anti-herói.
 
Mas, o que seria um personagem anti-herói? Os anti-heróis podem ser vistos como personagens que se tornaram “heróis” por motivos de vingança, egoísmo, em prol de seus próprios interesses, às vezes, visando fortuna e recompensas, o pote de ouro depois do arco-íris. São heróis com virtudes um pouco deturpadas e, às vezes, sem escrúpulos, tendo como ideal de que “os meios justificam os fins”. Ou seja, são personagens sem vocação heroica e pouco altruístas. Agora você me pergunta o que faz do Tempo um personagem anti-herói? 
 
Na película somos apresentados a um personagem pouco altruísta, que destrata seus serviçais e muito, muito egocêntrico, sem contar seu amor não correspondido por ninguém mais ninguém menos que... A Rainha Vermelha! Agora você pode me dizer: o fato dele estar apaixonado pela pessoa errada não faz dele "malvado". E você, caro leitor, tem plena razão e nisso não discutirei com você. Agora você também poderia me questionar: mas ao tentar impedir Alice de cometer uma catástrofe, não faz dele nobre? É aí que está a questão. O Tempo não está sendo nobre, não faz isso por motivos heroicos, ele só está "desempenhando seu papel": fazer com que a ordem natural dos acontecimentos continue a desenrolar-se como deveriam ser. Pense no ato dele como a de um cara que só está tentando fazer seu trabalho e Alice é um infortúnio que ele precisa "consertar". Nisso, o Tempo não é nada nobre, para impedir Alice ele se utiliza de meios nada altruístas com ações que lembram o provérbio: "os meios justificam os fins". 
 
Agora caro leitor, eu lhes pergunto: qual sua opinião a esse respeito: Seria o Tempo de fato o vilão do filme? Deixem seus comentários no livro de visitas com as hashtags: #TempoVilão, #TempoHerói ou #TempoAnti-Herói. 
 
Beijinhos, beijinhos, você sabe que me ama!
Por: Laura Glapinski.
2016

 


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