Resenha: A Bela e a Fera

Assisti A Bela e a Fera e gostaria de fazer uma resenha detalhada da película, infelizmente ambos os cinemas de Imperatriz só o oferecem dublado. Isso não prejudicaria o meu julgamento se o filme não fosse um musical, e é justamente isso que dificulta que eu faça uma resenha opinativa justa sobre o clássico.
Para um ator a voz tem papel importante na interpretação, em um musical obviamente ela é imprescindível, pois é através do canto que irão expressar seus sentimentos. Assistindo o filme dublado, eu sou incapaz de dizer se Emma Watson, Dan Stevens e Luke Evans (que interpretam respectivamente: Bela, Fera e Gaston) através de suas vozes conseguiram expressar seus sentimentos, se foram capazes de interpretar com a música os dramas de seus personagens, sou incapaz de dizer se eles são bons atores de filme musical.
Eu sei que a maioria que abriu este post está esperando o meu veredito sobre a atuação da Emma Watson, já que sou declaradamente fã da atriz e também acompanho o movimento feminista e por isso rotineiramente público informações sobre a artista em minhas redes sociais. Bom, o que eu posso dizer é que tanto Emma como Dan na maioria das cenas estão contracenando com objetos inanimados. Afinal Ian McKellen e Emma Thompson, embora atores de peso em Hollywood, não contracenam com os protagonistas, eles apenas dublam os objetos/empregados do castelo. Então é claro que este tipo de atuação exige muito dos atores, principalmente imaginação, você tem que exprimir reações ao mesmo que idealiza que aquele objeto inanimado na verdade tem vida, que tem expressões, que se movimenta... Neste quesito, os dois protagonistas se saem bem, é possível através das expressões dos atores sentir a carga emocional dos personagens em todas as cenas em que contracenam com os objetos, o que é importante visto que a maior parte dos diálogos significativos aconteciam nestas cenas.
A minha principal reclamação sobre o filme dublado é que as partes musicais viraram uma confusão de vozes e sons sobrepostos, uma poluição de áudio. Era de se imaginar que sendo dublado o público entenderia melhor o que se passa, mas não é o que acontece. Durante as músicas é necessário muita concentração para entender o que estão cantando, é uma confusão de vozes que atrapalha o entendimento. Eu me pergunto se no original em inglês há essa poluição sonora, mas uma coisa é certa: se mantivessem os musicais com o áudio original em inglês e apenas a legenda em português o entendimento seria melhor e de bônus ainda descobriríamos se Hermione Granger (ops, eu quis dizer Emma Watson) canta bem!
Levando em conta tudo que não pude captar por causa da dublagem, há pouco o que realmente posso comentar com plena certeza. Dentre estas, eu posso dizer que esteticamente o filme é lindo! Os figurinos de época, os cenários desde a vila ao castelo, os efeitos especiais que dão vida aos objetos do castelo, o contraste de luz e sombra, as cores harmônicas, tudo está muito bonito. Visualmente é um filme deslumbrante!
Fazendo uma comparação com o clássico da animação, eu posso dizer que não houveram muitas mudanças. Na verdade, o live-action é praticamente a mesma coisa, mas com atores reais. Uma das poucas alterações é a revelação do que acontece com a mãe de Bela, que na animação não somos sequer apresentados, acho que na época ninguém ligava ou se perguntava: Onde está a mãe de Bela? Como crianças nos contentávamos no essencial: Bela e o pai viviam sozinhos e só tinham um ao outro. Quando éramos crianças não nos preocupávamos com as lacunas. Outra revelação que preenche aquelas lacunas que não enxergávamos antigamente é o motivo pelo qual a personagem central era considerada "estranha" por todos os membros do seu pequeno vilarejo: Bela é a única mulher letrada na aldeia! O filme se passa na França do século XVIII então este fato era bem chocante na época, na verdade, era considerado até ultrajante. Afinal, naquele período a mulher devia ser submissa ao marido e na concepção patriarcal daquele tempo a ideia que se tinha é que quando uma mulher se tornava letrada "ela começa a pensar demais" como retrata a fala de Gaston no filme, e isso para um homem era inadmissível. Resumindo: as poucas alterações da película são, na verdade, um grande "preenche as lacunas" da animação.
E por último e não menos importante, é claro que não vou desapontá-los, eu tenho plena consciência de que muitos leram meu texto até aqui esperando que eu comente sobre a "grande alteração", que eu dê meu veredito final sobre a "cena gay" da película, afinal eu até o momento tenho defendido a representação LGBT na Disney. Pois bem, primeiro este fato não é uma "grande alteração", eu o convido a assistir a animação da Disney novamente, mas desta vez peço que preste atenção no personagem LeFou. Quero que você analise toda aquela veneração pelo Gaston alinhados a música na cena do bar (essa é uma parte importante), reveja atentamente a letra da música! LeFou sempre foi gay, você (uma criança na época) não percebeu isso e este fato não alterou ou te influenciou de alguma forma no seu crescimento, você sequer se deu conta da existência de um personagem gay na história! O que realmente mudou é que agora está tudo às claras, essa informação foi divulgada... e de repente a comunidade LGBT voltou a ser vítima de uma sociedade opressora e conservadora.
Agora a parte que vocês querem ouvir... a cena gay não deve ter 3 segundos de tela! Sério, é tão rápido que se você não for um telespectador atento você pode até mesmo perder a cena. Além de ser rápido, ainda há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo na tela, o que pode desviar sua atenção do casal gay. Apesar disso, há diálogos que revelam diretamente, mas de modo suave, a orientação sexual de LeFou. Alguns minutos antes do casal gay aparecer em tela LeFou contracena com a Mrs. Potts que o conforta com algo como: "Você é bom demais para ELE", se referindo a Gaston. Sim, você não leu errado! O casal gay não é composto por LeFou e Gaston, na verdade, o parceiro de LeFou é literalmente jogado em cena sem maiores apresentações ou desenvolvimento.
O que eu realmente não gostei é que me parece que por mais que a Disney tenha enfrentado tanta repressão por causa desta polêmica, mesmo assim a impressão que tenho é de uma representação clichê! Eu peço desculpas se esta declaração ferir algum membro da comunidade LGBT. Mas, neste filme em particular, LeFou é mais um esteriótipo que ganha vida, e se não bastasse: usaram este esteriótipo para reforçar o alívio cômico que o personagem representava na animação. Eu espero sinceramente que num futuro próximo a Disney possa representar com mais sensibilidade a comunidade LGBT.
Beijinhos, beijinhos, você sabe que me ama...
By: Laura Glapinski Zacca
2017